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MEU PAI  JACINTHO


“ Os homens verdadeiramente superiores em qualquer situação da vida, quer por sua indústria ou integridade, quer pela elevação de seus princípios ou pureza e retidão de intenções, impõem espontaneamente respeito. É natural crer em tais homens, ter confiança neles e imitá-los. Tudo que é bom é sustentado por eles, e sem eles não valeria a pena viver neste mundo.” – SAMUEL SMILES

  
Vê como é a vida ... Teu pai se foi há mais de vinte e cinco anos e tu pensas nele praticamente todos os dias, sonhas com ele muitas e muitas noites, tens na sua lembrança um esteio e um guia ... Mas, quando pedem que tu escrevas alguma coisa sobre ele, vem a perplexidade.  Pôr no papel todas as suas recordações, dizer tudo o que ele significou na tua vida ... Tarefa impossível, além do que qualquer tentativa estouraria o espaço oferecido e espantaria os improváveis leitores.  A saída é procurar a essência.
No caso do meu pai, Jacintho, a lembrança essencial é a da força de seu caráter.
Não que lhe faltassem outras tantas qualidades, a começar pelo intenso sentimento de empatia e solidariedade humana, que fez dele uma espécie de porto seguro ou  tábua de salvação da família, dos amigos, dos alunos e de quantos colaboradores  teve sob suas ordens, nas múltiplas atividades que exerceu, ao longo dos setenta e um anos de sua vida, intensamente vivida (“Precisamos encher a vida, meu filho...”). Sempre ajudando essa gente toda que, melhor do que um “filho-coruja”, poderia com menor suspeição falar de seus muitos méritos. Pois é o que ouço, orgulhoso, de tantas pessoas que o conheceram como parentes (mineiros, gaúchos, cariocas ou paulistas); alunos (de química, francês, inglês ou esperanto); colegas de farda (do Tenente Godoy, no quartel do 9º BC, em Caxias; do Capitão Godoy, no Hospital Militar de Porto Alegre, do Coronel. Godoy, na Escola de Cadetes); farmacêuticos e auxiliares dos laboratórios de análises, desde aquele que fundou, na década de 30, o pioneiro da região da serra gaúcha); compatriotas da  Liga de Defesa Nacional; consócios do Caxias Tênis Clube, do Juventude, do Juvenil, da Aliança Francesa e da Academia Caxiense de Letras; sócios e colaboradores da indústria farmacêutica ( a BASA);  companheiros e adversários (mas não inimigos) das lutas políticas (do General Godoy, libertador, presidente do partido, vereador e presidente da Câmara Municipal de Caxias)... 
Fico na essência e penso que ela está no extraordinário senso do dever que sempre o governou, de forma constante e incondicional, quaisquer que fossem as circunstâncias: dever com a família, com os amigos, com os colegas, com os empregados, enfim, com seus princípios de verdade, honra e coragem moral. Acima de tudo, como uma síntese, dever com Deus e a Pátria, esta Pátria amada que o inspirou a ingressar no Exército Brasileiro e a ele dedicar seu trabalho, sua devoção e o seu amor.
Desse caráter brotava a energia com que enfrentou todos os desafios, para vencer quase sempre ( “A vida  é uma coisa perigosa, filho...”),  nunca esmorecendo.  Daí vinha a pureza de seu coração, a riqueza do seu espírito e a credibilidade que dele emanavam e lhe granjearam o respeito de todos.
Essa lembrança essencial de meu pai tem sido para mim estrela-guia e fonte inexaurível de inspiração, de compromisso com a verdade, de amor à vida e de coragem  de viver.  Com ela presente, devo repetir o que ele disse de meu avô: 

“M as possa eu ao fim da caminhada
  De vida desvaliosa mas honesta,
  Dizer aos filhos, d'alma confortada:

                   ‘S e algo vos dou ao termo da jornada,
                             Toda a valia que acaso em mim se atesta,
     Minha não é, pois dele foi herdada ...’ 

Saudade, pai !

                                                                                              Dagoberto Lima Godoy
                                                                                              Caxias do Sul, agosto de 2000.


P.S. Agradeço aos meus colegas da indústria a indicação do nome de meu pai para o “Centro Poliesportivo do SESI Jacintho Maria de Godoy”, em Caxias do Sul.








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