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A “inovofobia”, desde bem antes do ludismo

As inovações e os avanços tecnológicos sempre chocaram as sociedades estabelecidas, o que se poderia chamar de “inovofobia”. Por isso costumam ser rejeitados, mesmo quando evidentes seus benefícios para a maior produtividade do trabalho humano e, consequentemente, para a esperança de uma melhor qualidade de vida para os trabalhadores. Por isso mesmo, uma invenção como o moinho d’água teve que esperar muitos séculos para ser adotada em larga escala, porque, quando surgiu, no século I A.C., seu uso ameaçou liberar muitos escravos do pilão. E bem antes do pânico dos “ludistas” diante da máquina a vapor e do tear mecânico (na primeira revolução industrial), houve o caso da atitude do imperador Vespasiano. Quando ele reconstruía o Capitólio, um artesão ofereceu-lhe um dispositivo inovador, capaz de transportar as pesadas colunas de mármore, colina acima, poupando o esforço de muitos homens. Que fez o imperador? Deu um prêmio ao inventor, mas...  proibiu que se utilizasse o invento, porque provocaria desemprego.
Ao longo do tempo, a “Síndrome de Vespasiano” vem retardando a difusão do progresso tecnológico, sem, entretanto, trazer melhoria de vida aos da sua época, tal como aconteceu com os escravos do césar. Entretanto, os povos que souberam neutralizar a “Síndrome” saltaram à frente dos demais: Inglaterra, França e Alemanha, os primeiros a enfrentar a crise do desemprego do século XVIII, foram os que tomaram a ponta do desenvolvimento industrial e do progresso social.
A formidável transformação por que passa o nosso mundo traduziu-se numa irreversível globalização, não apenas da economia, mas dos usos, costumes, valores e, consequentemente, das necessidades humanas. Se é verdade que a triste realidade nacional ainda nos põe frente ao desafio de matar a fome de milhões de irmãos nossos, também é certo haver muitos mais milhões de brasileiros que não se satisfarão com níveis de qualidade de vida menores do que aquele propagandeado pela mídia sem fronteiras do primeiro mundo.
Só há um caminho para a humanidade e este não é o da volta ao passado (marcado muito mais por injustiça, sofrimento e frustração, do que pelo bucolismo lembrado pelos saudosistas), mas o da busca de uma transformação cultural, tão rápida quanto os avanços da ciência e da tecnologia. Uma mudança que se traduza em uma nova organização sócio-política, capaz de utilizar as conquistas da mente humana para partilhar democraticamente suas benesses, redistribuindo o trabalho e o saber, bem como a riqueza e o poder por eles gerados.
Existe uma revolução em curso, a maior de todas quantas já viveu a humanidade. Ela não se deterá em função de nossos temores frente ao novo, ou do conservadorismo de tradições e ideologias ultrapassadas. É com um esforço solidário para aumentar a eficiência de nossa economia e da gestão pública, eliminando os desperdícios e concentrando-nos na aquisição e na difusão do conhecimento, que haveremos de conquistar, para os brasileiros, a possibilidade de que todos trabalhem, sem ter que renunciar à melhor qualidade de vida que o progresso humano ofereça aos mais capazes.        

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